OS APÓSTOLOS E OS DONS (Daniel A. Chamberlin )

O século vinte tem testemunhado o crescimento daquilo que muitos defendem ser os dons milagrosos do Espírito Santo. Depois de aproximadamente 1800 anos de silêncio, no meio do cristianismo bíblico, os dons apostólicos "supostamente" retornaram. Este fenômeno tem influenciado tanto a corrente de pensamento religiosa de nossos dias, que alguns ficam surpresos ao serem confrontados por alguém que ouse questionar a validade ou autenticidade desta afirmação. Nós desafiamos qualquer cristão sério a olhar para esta doutrina á luz das Escrituras e a perguntar honestamente: "Os dons milagrosos dos apóstolos retornaram?" Para respondermos a esta pergunta, nós devemos olhar para as Sagradas Escrituras, que é a nossa autoridade final.

Estas três listas de dons são encontradas no Novo Testamento:






















Ao examinarmos esta lista, encontraremos alguns dons que são miraculosos ou extraordinários (com asterisco) e outros não são milagrosos ou ordinários (sem asterisco). O nosso propósito é tratar dos milagrosos ou extraordinários. Assim, dividiremos estes em quatro partes.

I. Apóstolos


1- Quem eram eles? O termo "apóstolo" literalmente significa mensageiro, alguém enviado ou delegado. Ninguém podia ser um apóstolo pela própria vontade ou desejo, eles deveriam ser pessoalmente chamados pelo Senhor Jesus Cristo para este ofício. "E, quando já era dia, chamou os seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos" (Lucas 6:13). Todos eram homens, não havia nenhuma mulher chamada para ser "apóstolo".

De acordo com o Livro de Atos 1:21-22, para que alguém se tornasse um apóstolo, era necessário ter sido testemunha ocular durante todo o ministério público de Cristo incluindo depois da Sua ressurreição.

Foi permitido a igreja primitiva nomear diáconos (Atos 6:5) e anciãos (Atos 14:23), mas eles não podiam nomear apóstolos. Tal prerrogativa veio diretamente e tão somente de Cristo. Mesmo em Atos 1, a decisão final daquele que ocuparia o lugar de Judas, foi deixada nas mãos do Senhor. "E, orando, disseram: Tu, Senhor, conhecedor dos corações de todos, mostra qual destes dois tens escolhido" (Atos 1:24).

No Novo Testamento, nós também encontramos a mesma palavra Grega para "apóstolo" sendo usada para designar homens cujas igrejas escolheram para transmitir informações ou ajuda duma igreja para outra (II Coríntios 8:23; Filipenses 2:25; Atos 14:14; Apocalipse 2:2) Estes, portanto, não devem ser confundidos com os doze escolhidos pessoalmente por Cristo como Seus apóstolos.

O apóstolo Paulo desfrutou de um chamado único ou exclusivo. Embora ele não tivesse acompanhado Cristo durante Seu ministério público, ele viu Cristo ressuscitado e foi especialmente designado por Ele, como vemos em Gálatas 1:1, "Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo, e Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos)" Novamente Paulo explica; "e por derradeiro me apareceu também a mim, como a um abortivo" (I Coríntios 15:8.) Cristo chamou a Paulo mesmo depois da época da chamada dos apóstolos ter passado. Observe que Paulo foi o último de todos os apóstolos na terra a ver o Senhor Jesus de maneira visível, como uma testemunha de Sua ressurreição. Ninguém tem visto Cristo desta maneira desde então. Por isso, Pedro podia presumir que nenhum de seus leitores tinha visto o Senhor: "Ao qual, não o havendo visto amais, no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso" (I Pedro 1:8)

Ninguém, hoje em dia, que se advoga ser um apóstolo, preenche estas qualificações bíblicas. Da mesma forma, não temos nenhum dos apóstolos presentes para poder confirmar este chamado, como podemos ver quando Paulo foi recebido e reconhecido pelos mesmos (Gálatas 2:9). Vemos na igreja de Corinto, que um irmão com o dom de profecia, não falava e não era aceito sem que outros com o mesmo dom julgassem se o que foi dito vinha realmente da parte de Deus, sendo assim, como podem então estes que hoje dizem ser apóstolos serem julgados, sendo que não há mais apóstolos em nosso meio (I Coríntios 14:29.).

2- A Função deles. De acordo com Efésios 2:20, os apóstolos tiveram papel importante no desenvolvimento da Igreja Neo-Testamentária, que foi edificada "sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra de esquina." O papel deles incluiu pelo menos três funções. Primeira: A de serem testemunhas contundentes da ressurreição de Cristo, pois todos puderam vê-lo em Seu corpo ressuscitado. Segunda: A de receberem a revelação do mistério da Nova aliança, ou época da igreja, que seria composta tanto de judeus como de gentios (Efésios 3:1-10.). Os apóstolos foram os primeiros a entenderem esta verdade e a ensinaram para outros. Terceira: Eles foram inspirados a escrever a infalível Palavra de Deus ou Santas Escrituras, que as gerações posteriores poderiam ler. Todo o Novo Testamento foi escrito por um apóstolo ou por alguém diretamente ligado a um deles. Pouco antes de sua morte, o ultimo dos apóstolos que ainda sobrevivia, nos relata que este aspecto do trabalho deles foi completado de uma vez por todas (Apocalipse 22:18-19). Desde então, não temos mais nenhuma revelação que seja inspirada e genuína.

3- Sua Duração. O ofício de apóstolo foi temporário, pois seu trabalho estava limitado ao período de estruturação da igreja. O fundamento se faz necessário somente uma vez, e dali em diante, nós construímos sobre ele, pois não colocamos repetida e interminavelmente um fundamento. Não há lugar para apóstolos em nossos dias, pois o fundamento já foi há muito tempo completado. O cristianismo bíblico tem sido edificado sobre este fundamento por mais de 2000 anos. É uma coisa totalmente vergonhosa e arrogante, alguém ousar se colocar a si mesmo em pé de igualdade com Pedro ou Paulo e assumir o título de apóstolo hoje.

II. Profetas

1- Quem eram eles? O Novo Testamento não fala das qualificações deste ofício, mas os profetas são várias vezes mencionados em conexão com os apóstolos. "Profetas e apóstolos lhes mandarei" (Lucas 11:49); "edificados sobre o fundamento de apóstolos e profetas" (Efésios 2:20); "como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas" (Efésios 3:5.)

2- A Função deles. Os textos acima mostram que aqueles profetas compartilharam da estruturação da igreja junto com os apóstolos. Eles ensinaram as verdades divinamente reveladas, mas não foram instrumentos usados para escrever as Escrituras.
3- Sua Duração. Este dom estava relacionado ao fundamento ou estruturação da igreja, portanto, ele cessou juntamente com o dom de apóstolo, uma vez que este trabalho de estruturação foi completado e bem sucedido.

Na prática, hoje em dia, cada seita moderna tem o seu início por alguém que se auto-nomeou profeta ou apóstolo. Se acreditarmos na continuidade deste dom, nós não teremos um método seguro pelo qual poderemos refutar suas grosseiras heresias. Afinal de contas, quem vai discutir com um profeta!

III. O Dom de Línguas e de Interpretação

1- O que era ou em que consistia este dom. O verdadeiro dom de línguas consistia em falar uma língua ou dialeto o qual era anteriormente completamente desconhecido para aquele que falava, mas conhecido por algum grupo étnico daquela época. Havia conteúdo e um significado real nas palavras proferidas, e não mera balbuciação ou palavras e frases sem nexo. No dia de Pentecostes, "cada um os ouvia falar na sua própria língua." [literalmente !dialeto?] (Atos 2:6.) Além disto, enquanto Pedro explicava este milagre para a multidão, ele iguala o dom de línguas ao dom de profecias ao citar a profecia de Joel: "E também do meu espírito derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias, e profetizarão" (v.18). Novamente, I Coríntios 14:5 iguala o dom de profecia ao de línguas se houver intérprete, pois "o que profetiza é maior do que o que fala em línguas, a não ser que também interprete para que a igreja receba edificação."

I Coríntios 12:30 refuta a idéia popular de que todo convertido falava em línguas. Mesmo em Corinto, Paulo pergunta; "falam todos diversas línguas? Interpretam todos?"
A idéia moderna de que há outro tipo de dom de línguas, ou a língua dos anjos, é simplesmente estranha as Escrituras e deve ser rejeitada. O dom que alguns dizem possuir, que não passa de balbuciação, não é o verdadeiro dom de línguas.

2- Seu Propósito. Um dos propósitos deste dom era mostrar ao Judeu que Deus estava julgando a sua nação. "De sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis" (I Coríntios 14:22). Desde o tempo de Abraão, Deus tem falado para eles em Hebraico; mas agora, após a vinda de Cristo, Deus estava falando com eles em outras línguas, ou seja, as línguas dos gentios, para mostrar ao Judeu que o privilégio que eles tinham como nação chegara ao fim, pois os gentios também seriam participantes da aliança da graça. O fim da nação judaica ocorreu no ano 70 D.C, quando Jerusalém foi destruída. A partir daí, o sinal do julgamento, a saber, o dom de línguas, não era mais relevante nem necessário.

Um outro propósito para o dom de línguas, quando acompanhado do dom de interpretação, era o de edificar os convertidos no ajuntamento local. A interpretação de línguas, assim como o dom de profecia, serviram de forma direta para que a igreja recebesse "parcelas" da verdade. "Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos" (I Coríntios 13:9). Deus concedeu estes dons temporários enquanto a igreja estava no estágio de menino, e precisava se alimentar com alimento adequado, mas este foi substituído por uma perfeita e completa revelação, quando o Novo Testamento se completou. "Mas, quando vier o que é perfeito [Literalmente, maduro, adulto, completo] então o que é em parte será aniquilado" (v.10). A Palavra de Deus escrita, é um alimento e uma dieta perfeitamente balanceada para os Cristãos de hoje. O falar em línguas hoje, iria nos confinar a um estado de perpétua infância.

3- Sua Duração. Desde que a função do dom de línguas, quando interpretada, era o mesmo que o de profecia, e que este cessou juntamente com o de apóstolos, o dom de línguas terminou da mesma maneira ou época. Isto foi exatamente o que Paulo falou para a igreja de Corinto que aconteceria; "o amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá" (I Coríntios 13:8). As línguas foram um bloco utilizado no fundamento da igreja, o qual foi completamente concluído nos tempos apostólicos. Ou, usando a analogia de Paulo, estes dons milagrosos pertenceram à época de infância da igreja, mas Deus nunca teve a intenção de que ela permanecesse para sempre neste estágio! "Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, quando cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino" (v. 11).

O fato de encontrarmos em I Coríntios 14, um guia para o uso dos dons na igreja, não significa que eles permaneceriam para sempre. Além disso, essa orientação nem mesmo é seguida por aqueles que dizem possuir este dom hoje. Somente aos homens era permitido usar estes dons (v. 34), e se houvesse interprete, e não mais que três em cada culto, e também não deveriam fazê-lo de forma simultânea, mas um após o outro.

IV. Milagres e Curas

1- Quem tinha estes dons. Uma leitura cuidadosa do Novo Testamento revela que os apóstolos é quem geralmente exerciam estes dons. Por exemplo: "e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos" (Atos 2:43). "E muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos" (Atos 5:12). Paulo podia dizer aos Coríntios; "os sinais do meu apostolado foram manifestados entre vós com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas" (II Coríntios 12:12).

2- Seu Propósito. O propósito primário destes milagres era validar ou autenticar a autoridade dos apóstolos como mensageiros verdadeiramente enviados por Deus. Em Hebreus 2:3-4 lemos que a verdade da salvação ensinada por Cristo, "foi-nos confirmada pelos que a ouviram; testificando também Deus com eles, por sinais, e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade" Como foi nos dias de Moisés, assim também foi nos dias de Cristo e dos apóstolos, ou seja, os Judeus exigiam um sinal (I Coríntios 1:22) como prova de autenticidade, e Deus assim cuidou para que eles recebessem este sinal como prova.

3- Sua duração. Atos 8 nos indica que somente os apóstolos tinham o poder de transferir um dom miraculoso para outra pessoa, e esta pessoa não poderia transferi-lo a outrem. Filipe, o evangelista, pôde fazer milagres em Samaria (v. 6-7), mas os dons somente foram compartilhados com os novos convertidos depois que dois dos apóstolos vieram de Jerusalém (v. 14-19).

O dom de milagres cessou com a geração que veio depois da morte dos apóstolos.

Informações adicionais

A suposta capacidade de operar ou fazer milagres, não é uma garantia de que alguém está agindo pela verdade ou possua realmente vida espiritual. Os mágicos de Faraó copiaram os milagres feitos por Moisés. O homem do pecado em II Tessalonicenses 2:9-10 é descrito como aquele "cuja vinda é segundo a eficácia de satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem." Nosso Senhor ensinou que muitos no dia do julgamento irão reivindicar serem profetas e exorcistas de Cristo, mas que lhes será negada a entrada nos céus, pois eles na verdade são aqueles que "praticam a iniqüidade" (Mateus 7:22-23).

É realmente curioso que aqueles que professam possuir os dons apostólicos, raramente falam a respeito de certos dons arriscados, como o pegar em serpentes e tomar veneno (Marcos 16:18). O silêncio deles neste assunto é ensurdecedor.

Você poderia perguntar; Mas os dons não deveriam estar em operação em nossos dias, pois Jesus é sempre o mesmo? A resposta é que o Seu caráter essencial não muda, mas isto não significa que Ele faça exatamente as mesmas coisas aqui na terra em cada geração. Por exemplo: Nós não oferecemos animais em sacrifício como no Velho Testamento.

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Para aqueles que poderiam argumentar, "Eu tenho minha própria experiência e não me importo com que a Bíblia ou alguém venha me dizer" Nós responderemos com as palavras de Isaías 8:20; "À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles." As Escrituras estão acima de nossas experiências e sentimentos e o padrão para julgar as experiências e não o contrário.

Os dons apostólicos verdadeiramente voltaram? Não. Não há apóstolos nem dons apostólicos hoje. O fundamento da igreja já foi colocado, o Novo Testamento está completo e a nação judaica está espalhada, a necessidade deste ofício ou dos dons já passou. É certo que Deus pode fazer milagres, mas o dom de operar milagres não é dado hoje a ninguém.

Positivamente, as Escrituras têm algo para os salvos de hoje que é mais excelente do que os dons extraordinários que cessaram, e que a graça comum como a fé, a esperança e o amor é o que permanecem agora (I Coríntios 12:31; 13:8,13). Apesar de dizermos graça "comum", ela é na verdade sobrenatural, e Deus ainda premia os que a praticam. "Sem a santificação, ninguém verá ao Senhor" (Heb. 12:14). É hoje o nosso dever desejar e cultivar esta graça.


Autor: Pastor Daniel A. Chamberlin Covenant Baptist Church 500 W. College P.O. Box 741 Broken Arrow, OK 74013 (918) 251-5525 Tradução: Pastor Eduardo Cadete, Março 2004 Edição: Pastor Calvin Gardner, Abril 2004 Correção gramatical: Albano Dalla Pria 5/04Fonte: www.PalavraPrudente.com.br

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