“Primeiro eles exigem que se explique com que propósito Deus se enfurece contra as suas criaturas que não lhe fizeram nenhuma ofensa. Porque, pôr a perder e arruinar a quem bem lhe parece é coisa mais própria da crueldade de um tirano que da sentença justa dada por um juiz. Assim lhes parece que os homens têm bom motivo para queixar-se de Deus, se por seu puro querer, sem o próprio mérito deles, foram predestinados à morte eterna. Se tais cogitações subirem alguma vez ao entendimento dos crentes, eles estarão suficientemente armados para as repelir, bastando que considerem que tremenda temeridade é sequer inquirir as causas da vontades de Deus. Pois a vontade de Deus é (com todo o direito) a causa de todas as coisas que se fazem. Porque, se ela tivesse alguma causa, esta necessariamente a precederia, e seria como se estivesse atada a ela, o que não é lícito nem imaginar. Porque a vontade de Deus é de tal modo a regra suprema e soberana da justiça que tudo o que Deus quer, necessariamente o tem como justo, simplesmente porque o quer. Por isso, se for feita a pergunta: por que Deus agiu assim? Deve- se responder: porque ele o quis. Se ainda se perguntar: por que ele o quis? É querer conhecer uma coisa maior e mais alta que a vontade de Deus; o que não se pode encontrar.”
(CALVINO, João – As Institutas da Religião Cristã: edição especial com notas para estudo e pesquisa. [tradução Odayr Olivetti]. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. v. 3, p. 48.)
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