E visto que a Escritura nos consola bastante com todas as exortações perante as afrontas e calamidades de que padecemos, e que seriamos ingratos se não aceitarmos isso voluntariamente e de bom animo da mão do Senhor.
Especialmente porque este tipo de cruz é particularmente característica dos fiéis e por ela Cristo é glorificado em nós, como disse Paulo (1 Pe 4-13-14).
Mas como todo espírito elevado e digno, mais grave e duro sofrer uma injuria que suportar mil mortes, expressamente dito por Paulo que estejamos preparados não só a perseguições, mas também afrontas, tendo nossa esperança colocada no Deus vivo (1 Tm 4.10).
Tampouco nos exige uma alegria que suprima em nós, todo sentimento de amargura e de dor, caso contrário, a paciência que os santos têm na cruz não teria valor algum se não fossemos atormentados em dor, e não experimentássemos angustia perante as tribulações.
Se a pobreza não fosse dura e chata, se não sentíssemos dor na enfermidade, se não nos machucasse as afrontas, se a morte não nos causasse horror algum, de que fortaleza ou moderação conseguiríamos em menosprezar todas estas coisas, ignorando-as?
Mas se cada um esconde dentro de si certa amargura, que perfura o coração, nisto se mostra à fortaleza dos fiéis, que a se ver tentado por amargura, por mais que sofra intensamente, resistindo corajosamente, acaba por vencer, nisto mostra paciência, pois ao se ver estimulado por este sentimento, é contido com o temor de Deus, para não cometer nenhum excesso.
Nisto vemos alegria, pois ferido pela tristeza e as dores, apesar disso, se tranqüiliza com o consolo espiritual de Deus.
Institución de La Religión Cristiana, por Juan Calvino, libro III, VIII, 08 – traduzido e adaptado por Carlos Reghine
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